sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

O que é a doença celíaca?

O que é a doença celíaca?

A doença celíaca é uma doença crónica do intestino que surge em pessoas com predisposição genética para desenvolver a doença quando ingerem alimentos contendo glúten. A ingestão do glúten vai provocar alterações típicas no intestino que impedem a absorção normal dos nutrientes, e é característico da doença o desaparecimento dessas lesões quando se faz uma dieta isenta de glúten.
O que é o glúten?
O glúten é uma proteína que existe na composição de alguns cereais (trigo, centeio, cevada e aveia). O arroz e o milho não possuem glúten. O glúten funciona como um factor de agressão para o intestino em pessoas geneticamente predispostas, causando um achatamento da mucosa intestinal com atrofia das vilosidades intestinais e diminuição da sua capacidade de absorção (em condições normais as vilosidades do intestino delgado são o principal local onde os nutrientes necessários ao organismo são absorvidos).

A doença celíaca é frequente?
A doença celíaca foi considerada durante muito tempo uma doença rara porque o número de casos diagnosticados na população era baixo.
Actualmente, com a melhoria dos métodos de diagnóstico e o conhecimento de que há diferentes formas de apresentação da doença, com um leque de sintomas variável, sabe-se que na população adulta cerca de 1 em cada 300 indivíduos pode estar afectado pela doença.
A doença celíaca afecta mais os homens ou as mulheres?
Embora o número de casos sintomáticos seja mais elevado no sexo feminino, os estudos epidemiológicos em que se faz o rastreio da doença na população independentemente da presença de sintomas, mostram que a doença celíaca atinge de igual modo os dois sexos.
A doença celíaca é hereditária?
Sim, a doença celíaca é uma doença genética embora se desconheça ainda a sua forma de transmissão. A probabilidade de aparecimento da doença em familiares de primeiro grau de um doente celíaco é de cerca de 10%.
Quais são os sintomas característicos da doença celíaca?
Sendo a doença celíaca uma doença em que há uma diminuição da capacidade de absorção de nutrientes no intestino, os seus sintomas são comuns a outras doenças causadoras de má absorção intestinal.
Os sintomas típicos no adulto são a diarreia crónica (aumento da frequência diária das dejecções com diminuição da consistência das fezes), a esteatorreia (fezes com um teor aumentado de gordura, volumosas, com cor clara e brilhante, mal cheirosas e moles) e a perda de peso (resultante de uma inadequada absorção de nutrientes).
O quadro clínico na criança tem algumas características próprias.
Actualmente sabe-se que na maioria dos adultos com doença celíaca não tratada apresenta formas atípicas, com queixas transitórias e sintomas extra intestinais nem sempre associados à sua verdadeira causa.
Assim, além da diarreia e esteatorreia que podem ser pouco aparentes e intermitentes, pode haver obstipação (prisão de ventre) alternando com diarreia, cólicas abdominais e distensão do abdómen (barriga inchada), dores ósseas e cãibras por perda de cálcio, magnésio e potássio, edema (inchaço) das extremidades dos membros, tremores, formigueiros e diminuição da sensibilidade das mãos e dos pés, alterações do ciclo menstrual, pele seca, unhas quebradiças, aftas, etc. A perda de peso, característica da forma clássica, pode não estar presente nas formas atípicas.
Como se manifesta habitualmente a doença celíaca nas crianças?
Os sintomas da doença celíaca podem aparecer em qualquer altura após a introdução de alimentos com glúten na dieta. O seu aparecimento nas crianças é mais frequente nos dois primeiros anos de vida mas a doença pode manter-se assintomática até à idade adulta.
Os sintomas mais frequentes na criança pequena são a diarreia crónica, a irritabilidade, os vómitos, o atraso de crescimento e o aumento de peso insuficiente. À observação temos uma criança de baixa estatura, emagrecida, com o abdómen distendido, pele seca e pálida, olheiras e semblante triste. As suas fezes são ricas em gordura (que não é absorvida), brilhantes, mal cheirosas, volumosas e pouco consistentes.
A introdução da dieta sem glúten (após confirmação do diagnóstico) leva a uma rápida modificação do aspecto das fezes, aumento de peso, com melhoria do estado geral e do humor.
Porque é que se desaconselha a administração de papás com glúten antes dos 6 meses de idade?
Sabendo-se que algumas crianças são susceptíveis à acção do glúten e poderão desenvolver quadros graves de diarreia alguns meses após a sua introdução na alimentação, procura-se com esta medida «atrasar» essa eventualidade para um pouco mais tarde, numa idade em que as consequências de uma diarreia arrastada não sejam tão graves como sucede nos primeiros meses de vida. A introdução do glúten deve fazer-se a partir dos seis meses porque se a protelarmos muito mais poderemos originar quadros tardios, que são mais atípicos e de diagnóstico difícil.
Como se diagnostica a doença celíaca?
O diagnóstico da forma clássica de doença celíaca, particularmente nas crianças, faz-se com base no quadro clínico típico (atraso de crescimento, perda de peso, distensão abdominal, diarreia crónica). Perante estes sintomas o médico pede análises ao sangue e às fezes que confirmam a existência de má absorção e pode pesquisar a existência de anticorpos no sangue característicos da doença celíaca. Se estes exames forem positivos a probabilidade de se tratar de uma doença celíaca é elevada mas o diagnóstico necessita sempre de ser confirmado através de biopsia ao intestino para identificação das lesões intestinais típicas da doença (achatamento da mucosa do intestino). Para um diagnóstico correcto a biopsia do intestino tem de ser repetida seis a nove meses após o início da dieta sem glúten, para constatar a melhoria das lesões da mucosa intestinal, como é característico desta doença; se as alterações da mucosa não tiverem melhorado com uma dieta sem glúten não estamos perante uma doença celíaca. Uma vez que a biopsia intestinal é um método invasivo para o doente, não se pode iniciar o tratamento com base na suspeita clínica ou na positividade das análises, apenas para ver se as queixas desaparecem? Não, é incorrecto iniciar uma dieta isenta de glúten sem confirmar previamente o diagnóstico de doença celíaca, uma vez que este diagnóstico implica alterações profundas dos hábitos alimentares que devem ser mantidas para o resto da vida. É fundamental que a primeira biopsia seja realizada antes de retirar o glúten da alimentação para poder detectar as lesões típicas da doença e confirmar a sua melhoria depois do tratamento.
Como se faz o rastreio da doença celíaca e a quem deve ser feito? Actualmente o rastreio da doença celíaca faz-se através da pesquisa de anticorpos específicos no sangue, que podem sugerir a existência da doença mesmo na ausência de sintomas. Estes testes não substituem a biopsia do intestino na confirmação do diagnóstico. O rastreio deve ser feito nas situações em que há um risco potencial de existência da doença, como nos familiares em primeiro grau de doentes celíacos, nos indivíduos que sofrem de doenças auto imunes (diabetes, tiróide auto imune, hepatite auto imune, etc.), na anemia arrastada por perda de ferro sem causa aparente, na síndrome do cólon irritável, na síndrome de Down (mongolismo ou trisomia 21), etc. A confirmação por biopsia intestinal deve ser proposta se o rastreio for positivo. A população geral é considerada de baixo risco, pelo que o rastreio sistemático de grupos populacionais é apenas realizado em estudos epidemiológicos.
Quais são as complicações da doença celíaca? As complicações que surgem na doença celíaca estão associadas a uma exposição prolongada ao glúten, quer resulte de um diagnóstico tardio, quer pelo incumprimento da dieta. Entre as complicações possíveis as mais graves são o aumento da probabilidade de ocorrência de doenças malignas (linfoma, carcinoma do esófago ou do intestino) e o hipoesplenismo (atrofia do baço com a consequente diminuição das defesas contra certas infecções graves). Quando o diagnóstico de doença celíaca é precoce e a dieta rigorosa as complicações são extremamente raras (a mortalidade dos doentes cujo diagnóstico foi feito na infância e cumprem a dieta isenta de glúten é idêntica à da população geral).
Qual é o tratamento da doença celíaca? O tratamento de base da doença celíaca é a dieta sem glúten, tão rigorosa quanto possível, e mantida durante toda a vida. Numa dieta sem glúten devem ser excluídos todos os alimentos que contém trigo, cevada, aveia e centeio. Os únicos cereais permitidos são o milho e o arroz. Para que a dieta seja rigorosa o doente deve analisar sempre a composição dos alimentos, particularmente os de confecção industrial. Deve ainda ter presente que alguns medicamentos têm na sua composição excipientes que contêm glúten. Para ajudar os doentes a identificar os alimentos comercializados que estão isentos de glúten a Associação de Doentes Celíacos fornece listas actualizadas destes alimentos. Na fase inicial do tratamento, se a desnutrição for importante, alguns doentes necessitam de suplementos de vitaminas e minerais. Embora seja raro, nas formas mais graves da doença poderá haver necessidade de instituir tratamentos complementares da dieta.
A dieta sem glúten só está indicada aos doentes com sintomas? Não. A dieta sem glúten deve ser feita por todas as pessoas a quem foi diagnosticada a doença, mesmo se a forma de apresentação é atípica ou silenciosa (sem sintomas). A necessidade de tratamento dos doentes assintomáticos baseia-se na existência de alterações inflamatórias mesmo quando não há sintomas, com aumento do risco das complicações malignas nas formas latentes ou silenciosas.
Quais são os alimentos permitidos e a evitar na dieta sem glúten? Alimentos permitidos: - peixe, carne, aves; - ovos, leite, iogurtes; - arroz, batata, frutos e verduras frescas em geral; - cereais de milho (corn flakes) e arroz (rice krispies); - pão de milho e outros pães, bolos, bolachas e biscoitos confeccionados com farinha sem glúten, à venda nas casas de produtos dietéticos. Alimentos a evitarem: - todos os derivados do trigo, centeio, cevada e aveia; - pão, bolos, biscoitos, doces de pastelaria, tostas e bolachas; - cereais de pequeno-almoço contendem trigo; - papás para bebés com excepção das de milho e arroz; - massas e pão ralado; - sopas de pacote, espessantes para molhos, cubos de caldo, caril em pó, mostarda, molhos, refeições pré confeccionadas;